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Alergia: quais os tipos e o que fazer em caso de suspeita?

Alergia: quais os tipos e o que fazer em caso de suspeita?

Alergia é uma reação exagerada do sistema imunológico quando exposto a substâncias que, geralmente, são inofensivas para a maioria das pessoas. Nesse caso, o sistema imunológico interpreta essas substâncias como invasores potencialmente perigosos. Como resultado, ocorre a produção de anticorpos para combater combatê-los, desencadeando uma resposta imunológica que leva ao processo alérgico. Essa reação pode se manifestar de diversas formas, como na pele, seios da face, sistema respiratório ou digestivo.

No Brasil, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), aproximadamente 30% da população apresenta alguma forma de alergia, sendo que desse total, 20% são crianças. A condição mais comum é a asma, afetando entre 10% e 25% dos brasileiros. Durante as últimas duas décadas, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou uma redução significativa de 75% nas internações por asma, passando de 400 mil para menos de 100 mil internações anuais.

Essa diminuição é atribuída aos avanços no tratamento e à maior conscientização dos pacientes em seguir as recomendações dos especialistas. Diariamente, cerca de três pessoas vem a óbito devido à asma no Brasil, sendo que 80% dos asmáticos também apresentam rinite alérgica. 

Segundo a World Allergy Organization (WAO), mais de 400 milhões de pessoas sofrem de rinite alérgica em todo o mundo, sendo que a maioria permanece subdiagnosticada e subtratada. Nos Estados Unidos, a rinite afeta entre 10 a 30% da população adulto em geral e até 40% das crianças, apresentando-se como a quinta doença crônica mais comum.

Quanto às alergias a medicamentos, as estatísticas precisas ainda não estão disponíveis no Brasil. Nos Estados Unidos, entre 8% e 10% da população se declara alérgica à penicilina, porém, uma investigação minuciosa revela que menos de 10% deles são verdadeiramente alérgicos. No contexto brasileiro, estima-se que entre 0,5% e 1,0% da população adulta seja afetada, principalmente por alergias a analgésicos e anti-inflamatórios.

Embora não haja dados oficiais sobre alergia alimentar no Brasil, a ASBAI sugere que a prevalência seja similar à encontrada na literatura internacional. Esses estudos indicam que cerca de 8% das crianças com até dois anos e 2% dos adultos sofrem de algum tipo de alergia alimentar. Outra condição alérgica com alta prevalência, segundo a ASBAI, é a dermatite atópica, afetando até 20% das crianças e 3% dos adultos.

A gravidade da reação alérgica depende do grau de sensibilidade da pessoa e do tipo de alérgeno, podendo variar de uma reação leve a um caso grave de anafilaxia, caracterizada por uma reação aguda e potencialmente fatal.

Neste conteúdo, abordaremos os tipos mais frequentes de alergias, seus principais sintomas e as medidas a serem tomadas em caso de uma reação alérgica.

Alergias para ficar atento

Existem diversos tipos de alergias, sendo as mais comuns as respiratórias, cutâneas, alimentares e medicamentosas. As causas incluem fatores hereditários (genéticos) e ambientais, embora, em alguns casos, a razão para o desenvolvimento da alergia não seja clara.

Alergia respiratória

Asma alérgica e rinite alérgica são as principais alergias que afetam as vias respiratórias, sendo desencadeadas por alérgenos como poeira, pólen, ácaros, fungos, pelos de animais, entre outros alérgenos. Fatores irritantes como odores fortes, poluição, mudanças de temperatura, infecções e até componentes emocionais podem influenciar nas crises.

A asma alérgica provoca inflamação das vias aéreas, gerando falta de ar, tosse, chiado e aperto no peito. Porém, nem toda asma tem origem alérgica, podendo ser causada por outros fatores como ansiedade, estresse e ar frio ou seco.

Já a rinite causa espirros, coriza, coceira no nariz, olhos e garganta, nariz entupido, alterações no paladar e vermelhidão nos olhos. Crises repetidas podem levar a complicações como sinusites, amigdalites e otites, necessitando muitas vezes de antibióticos. Contudo, qualquer medicamento para cessar a alergia, deve ser prescrito por um médico.

Alergia cutânea

As alergias cutâneas são reações inflamatórias na pele provocadas por alérgenos, resultando em vermelhidão, coceira e inchaço. Existem diferentes formas de manifestação deste tipo de alergia, sendo os principais: a urticária, o angioedema, a dermatite de contato, a dermatite atópica e o rash cutâneo.

A urticária é caracterizada por vermelhidão elevada e pode ser causada por picadas de insetos ou contato com substâncias como látex, por exemplo. O angioedema, semelhante à urticária, afeta camadas mais profundas da pele, causando inchaço, especialmente na face e lábios.

A dermatite de contato é causada por substâncias irritantes, como cosméticos e produtos de higiene. Já a dermatite atópica, comum em crianças, pode ser desencadeada por fatores como frio, calor, poluição ou produtos de limpeza, afetando as dobras corporais, face, pescoço, mãos e pés.

O rash cutâneo é uma reação alérgica com lesões arredondadas e avermelhadas, geralmente no tórax, pescoço e face, podendo ser provocada por substâncias irritantes ou infecções virais como dengue ou zika.

Alergia alimentar

Alimentos podem ser alérgenos para algumas pessoas, causando reações que variam de leves a graves. É importante diferenciar entre sintomas alérgicos e a alergia em si. Alimentos como amendoins, nozes, frutos-do-mar, leite, ovos, trigo e soja são comuns desencadeadores de alergias alimentares.

As reações variam de sintomas cutâneos e gastrointestinais a respiratórios. Em casos graves, pode ocorrer anafilaxia, uma reação aguda que pode ser fatal, caracterizada por edema de glote – caracteriza pelo inchaço na região da garganta – e obstrução das vias aéreas.

Entre as principais alergias alimentares está a alergia a lactose, uma condição na qual o organismo apresenta uma resposta imunológica anormal à lactose, um tipo de açúcar encontrado no leite e em produtos lácteos. 

A lactose é normalmente quebrada pela enzima lactase no intestino para ser absorvida pelo corpo. No entanto, indivíduos com alergia à lactose têm deficiência ou ausência dessa enzima, levando a sintomas gastrointestinais após a ingestão de alimentos contendo lactose.

É importante diferenciar a alergia à lactose da intolerância à lactose, a qual é uma condição não alérgica causada pela deficiência de lactase sem envolvimento do sistema imunológico. O diagnóstico preciso e o manejo adequado da alergia à lactose são essenciais para evitar sintomas desconfortáveis e complicações associadas à má absorção de nutrientes.

Alergia medicamentosa

A alergia a medicamentos é uma reação adversa do sistema imunológico a um fármaco, gerando efeitos nocivos não intencionais. O mecanismo é semelhante ao de outras alergias, onde o sistema imunológico identifica o medicamento como uma substância prejudicial. 

Na primeira exposição, o corpo cria anticorpos contra essa substância. Se ocorrer uma segunda exposição ao mesmo medicamento, uma resposta imunológica é desencadeada, resultando em manifestações alérgicas em várias partes do corpo.

Os sintomas são variados e podem incluir edema facial, erupções na pele, dificuldades respiratórias, entre outros. Assim como nas alergias alimentares, a reação alérgica a medicamentos pode ser grave e levar ao choque anafilático.

Alergia emocional

A alergia emocional, também conhecida como urticária emocional, é uma condição dermatológica desencadeada por fatores, como estresse, ansiedade e outras emoções intensas. Embora o termo “alergia” seja utilizado, não há uma resposta imunológica envolvida, como nas alergias tradicionais mediadas por IgE. Em vez disso, acredita-se que a resposta cutânea esteja relacionada a mecanismos neuroimunes e neuroendócrinos.

Os sintomas da alergia emocional geralmente se manifestam na pele, com lesões semelhantes à urticária, caracterizadas por placas avermelhadas, elevadas, pruriginosas (coceiras), que podem variar em tamanho e forma. Essas lesões podem aparecer repentinamente e desaparecer dentro de algumas horas, muitas vezes associadas a situações de estresse emocional. Alguns pacientes também relatam uma sensação de queimação ou formigamento na pele.

O diagnóstico da alergia emocional é essencialmente clínico, baseado na história do paciente e na relação entre os sintomas cutâneos e eventos emocionais desencadeantes. É importante excluir outras condições dermatológicas que possam apresentar sintomas semelhantes, como urticária física, dermatite de contato, entre outras. Em alguns casos, testes complementares, como testes alérgicos cutâneos, podem ser realizados para descartar alergias tradicionais.

O tratamento da alergia emocional envolve principalmente o controle dos fatores desencadeantes emocionais, como terapia cognitivo-comportamental, relaxamento e técnicas de gerenciamento do estresse. Em casos mais graves, pode ser necessária a prescrição de medicamentos, como anti-histamínicos para alívio dos sintomas cutâneos. A abordagem multidisciplinar, envolvendo dermatologistas, psicólogos e psiquiatras, é fundamental para o manejo eficaz dessa condição.

O que fazer em caso de sintomas de alergia?

Descobrir uma alergia muitas vezes só ocorre após uma reação alérgica. Ao perceber uma crise, buscar ajuda médica é importante para identificar a causa e iniciar o tratamento adequado, que pode incluir medicamentos antialérgicos e evitar a substância irritante.

O diagnóstico preciso das alergias orienta o tratamento e evita exposições que possam desencadear reações adversas. Existem várias abordagens diagnósticas para identificar alergias em geral, incluindo testes cutâneos, testes sanguíneos específicos de IgE e testes de provocação.

Testes Cutâneos

O teste de puntura cutânea, também conhecido como teste de prick (prick test, do inglês) envolve a aplicação de pequenas quantidades de extratos alergênicos na pele do paciente, seguida por uma avaliação médica da resposta local após cerca de 15 a 20 minutos. Um inchaço avermelhado (pápula) indica sensibilidade ao alérgeno testado.

Teste de intradermorreação

Semelhante ao teste de puntura, mas envolve a injeção do alérgeno na camada superficial da pele. Uma pápula maior que 3 mm de diâmetro após 15 a 20 minutos é considerada positiva para aquele alérgeno.

Testes sanguíneos específicos de IgE

A dosagem de IgE específica, também conhecido como teste RAST (RadioAllergoSorbent Test), mede os níveis de IgE específica para alérgenos no sangue do paciente. O exame é realizado por meio de uma amostra simples de sangue. Níveis elevados de IgE específica podem indicar sensibilização a determinados alérgenos.

Testes de provocação

Realizado sob supervisão médica, envolve a ingestão controlada do alérgeno suspeito para observar a resposta do paciente. Esse teste é útil em casos de resultados inconclusivos de outros testes ou quando há necessidade de confirmar a presença de uma alergia alimentar.

Importância do histórico clínico detalhado

A anamnese completa é essencial para identificar padrões de exposição, sintomas associados e possíveis desencadeadores de reações alérgicas. O médico também pode solicitar um diário de sintomas, por meio do registro dos alimentos consumidos, exposições ambientais e sintomas experimentados podem ajudar a identificar padrões alérgicos.

É importante ressaltar que a interpretação dos resultados dos testes deve ser feita por profissionais de saúde qualificados, considerando o contexto clínico e os sintomas apresentados pelo paciente. Em alguns casos, pode ser necessário combinar diferentes testes para obter um diagnóstico preciso da alergia.

O tratamento envolve evitar a exposição ao alérgeno e, em alguns casos, realizar dessensibilização progressiva ao agente causador. As imunoterapias, como vacinas para ácaros, por exemplo, são opções que visam reduzir a sensibilização e induzir tolerância.

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